A Vedanta afirma que a Realidade Última é o nosso Ser interior, e que pode ser conhecida por meio de intensa meditação. Tal meditação é comparada ao fluxo contínuo de óleo quando é derramado de um recipiente a outro. Os passos para se chegar a tal meditação são enumerados como: purificação da mente pela prática de austeridade, controle mental e, simultaneamente, ouvir e refletir repetidamente sobre esse Ser. As escrituras sagradas declaram que essa Realidade está além de todos os pensamentos e conceitos, enquanto que a meditação requer concentração em algo definido.
Como, então, o buscador da Verdade deve meditar no Ser? Em resposta a essa questão, os textos da Vedanta aludem para a necessidade de símbolos. Ninguém pode falar de algo sem utilizar-se de símbolos. Até mesmo os nossos pensamentos são simbólicos. O símbolo torna-se algo que nos faz lembrar da verdade.
De forma geral, existem dois tipos de símbolos: imagens e palavras. Certos objetos, como a cruz, o fogo, o templo, a igreja, e a mesquita, são imagens símbolo, assim como as diferentes representações visuais de Deus. Há ainda certas palavras, frases, sílabas e sentenças que, pela sua longa associação com pensamentos sagrados, estão carregadas de santidade. Quando pronunciadas de forma correta, são capazes de despertar a consciência espiritual do aspirante.
A palavra sagrada Om (ou Aum) pertence à categoria das palavras-símbolo, sendo considerado como o símbolo mais universal da Realidade Suprema. O mantra Om é a mais sagrada de todas as sílabas místicas. Repetindo-a e meditando em seu significado, muitos buscadores cruzaram o mar tempestuoso da mente e alcançaram as margens da imortalidade.
O Mandukya Upanishad descreve Om como tudo o que existe, tudo o que vemos e percebemos, sendo as três letras símbolos da totalidade de nossas experiências. Todas as experiências ocorrem nos três estados de nossa existência: vigília, sonho e sono profundo. A letra “A” representa o estado de vigília, “U” o estado de sonho, e “M” o estado de sono profundo.
Durante o estado de vigília, temos a experiência dos objetos externos. Nossos órgãos dos sentidos se abrem, por assim dizer, diante do mundo exterior. Da mesma forma, nós abrimos a boca enquanto pronunciamos a letra “A”. A letra “U” é comparada ao estado de sonho, quando nossas experiências tornam-se sutis ou se transformam em imagens mentais. Similarmente, quando pronunciamos “U”, a palavra “A” se converte em algo mais sutil. Finalmente, no estado de sono profundo, sem sonhos, todo o universo diversificado é convertido em uma experiência de unidade, ou estado causal. Enquanto pronunciamos “M”, cobrimos em sua totalidade o fenômeno de produção do som.
Portanto, Aum é o símbolo do universo inteiro de pensamento e percepção que experimentamos em todos os três estados de consciência. Não só isso, pois aquele que medita em Aum como um todo — isto é, sem se fixar em uma letra em particular—, transcende os três estados de consciência e realiza a Verdade Suprema em todas as partes, escapando da transmigração do mundo fenomenal.
Os sábios da Vedanta afirmam, unanimemente, que todos os desejos do coração são realizados pela repetição e contemplação em Om. Sendo o símbolo da Consciência Cósmica, o mantra Om é o armazém de infinita energia e poder. O grande sábio Patanjali diz, em seu magnífico tratado Yoga Sutras, que todos os obstáculos no caminho da meditação são superados pela repetição sistemática dessa palavra sagrada, e que o aspirante obtém êxito em eliminar as perturbações mentais por essa prática.
O mantra Om também é a palavra mais sagrada dos Vedas e dos Upanishads. O Katha Upanishad designa- -o como sendo o próprio Brahman, e o símbolo mais apropriado do Absoluto Infinito:
“A meta que todos os Vedas declaram, que é o propósito de todas as austeridades, e que os homens se esforçam para alcançar levando uma vida de autocontrole, direi a vocês brevemente: ela é Om. De fato, essa sílaba é Brahman.”